Todos sabemos que as regiões brasileiras têm riquíssima diversidade musical de raiz folclórica, cada uma com seus ritmos, melodias, temáticas. No Rio Grande do Sul, além da formação cultural comum ao País, desenvolveu-se historicamente uma insinuante simbiose com as formações e culturas campesinas do Uruguai e da Argentina. Os índios, e logo a figura do gaúcho (ou gaucho), eram alheios às mutantes fronteiras artificiais traçadas ao longo dos séculos no mapa do Pampa, pois estavam nos três lados.
Ao lado do já internacional Renato Borghetti, o grupo musical que melhor representa, hoje, essa particularidade única que o extremo Sul insere na cultura brasileira, é o Quartchêto. Partindo de ritmos folclóricos comuns à atualidade do Pampa, como a milonga, a vanera, o chote, o chamamé, a chacarera, o candombe, a polca, seus integrantes alçam vôo em direção a uma música que pode ser ouvida sem estranheza, e com muito prazer, por exigentes plateias de qualquer país em qualquer continente.
Não por outra razão, depois de lançar o primeiro disco, em 2005, o Quartchêto tem conquistado as comissões selecionadoras dos mais importantes projetos de incentivo e investimento do Brasil, como o Rumos Itaú Música, o Natura Musical e o Petrobras Cultural. Não por outro motivo, esse primeiro disco ganhou quatro troféus Açorianos (principal prêmio da música no Rio Grande do Sul), inclusive os de Show e Disco do Ano. O segundo álbum, Bah, de 2009, repetiu a dose: três troféus, Disco do Ano.
Os projetos levaram o grupo a várias capitais, empolgando o público com a mistura de música para ouvir mas que também se pode dançar. Que é brasileira do Sul, mas com alguma levada platina, outras de jazz e bom-humor. Sobre os ritmos citados, a milonga (que deu origem ao tango) é comum à região do Pampa. O chamamé vem da fronteira argentina (Corrientes) e está cada vez mais aculturado no Brasil, do Rio Grande ao Mato Grosso. A chacarera também vem de lá. O candombe é uruguaio.
A polca, o chote e a vanera são trinetos de ritmos dançantes europeus espalhados pelo Brasil. O chote (xote, para o pessoal do Nordeste) vem do schottisch escocês. A vanera, mãe do vanerão (ritmo gaúcho-brasileiro cada vez mais popular no interior da Argentina), vem da cubano-espanhola habanera – que é também uma das matrizes do choro e do samba, ao lado da polca europeia e do lundu africano. Legal saber um pouco dessa genealogia dos ritmos, pois muito imaginam que surgiram do nada...
Não é o caso dos rapazes do Quartchêto, forjados em muitas instâncias da música, da erudita à regionalista, e precursores do formato acordeão, trombone, violão, percussão.
Juarez Fonseca
Fonte:
https://www.quartcheto.com.br/sobre